Uma das manifestações religiosas mais belas que acontecem na
Cidade de Goiás anualmente é a Procissão do Fogaréu, que começa à meia noite da
quarta-feira da semana santa. Neste dia, as encenações sobre a Paixão de Cristo
movimentam a localidade, que acompanha tudo com devoção e certa curiosidade.
Na Quarta feira de trevas, acontece a Procissão do Fogaréu,
única neste estilo realizada no Brasil. Simboliza a busca e prisão de cristo.
Dela participam personagens encapuzados, denominados Farricocos que seriam
penitentes e mantenedores da ordem. Tais personagens, são os que mais se
assemelham aos existentes na Semana Santa espanhola. Cerimônias Litúrgicas e
para-litúrgicas. A procissão tem início por volta das 00:00hs., com a
iluminação pública apagada e ao som de tambores, saindo de frente da porta do
Museu de Arte Sacra da Boa Morte, na praça principal. Segue rápida e
desordenadamente até às escadarias da Igreja de N.S. do Rosário, onde
encontrarão a mesa da última ceia já dispersa. Daí, segue em direção a Igreja
de São Francisco de Paula, que no ato simboliza o monte das oliveiras, onde se
da a prisão de Cristo, representado por um estandarte de linho pintado em duas
faces pelo artista plástico Veiga Valle, no sec. XIX. Nesta cerimônia, o único
ato litúrgico, é a homilia realizada pelo Bispo Diocesano, no pátio da Igreja
de S. Francisco. Após a homilia, a procissão continua até o ponto de origem,
encerrando.
Musicalidade.
Durante a procissão são cantados três peças dos Motetos dos
Passos, no início (Exeamus), na parada do Rosário (Domine) e após a prisão do
Cristo (Pater). Também aparece a fanfarra, com tambores tocando marchas
rápidas. A fanfarra foi introduzida por volta de 1965 para se conseguir
silêncio. Antigamente, em seu lugar havia toques esporádicos de uma “buzina”,
chifres de boi semelhante a um berrante. No momento da prisão do Cristo, também
se ouve o toque de um clarim, executado por um farricoco. Aspectos folclóricos
e curiosidades. A cerimônia é rica em detalhes e beleza plástica. As figuras
encapuzadas remontam as cerimônias espanholas, mais especificamente as de
Toledo e Sevilha e ao período da inquisição. A escuridão, as tochas, a rapidez
e os encapuzados, criam um clima medieval assustador e excitante de beleza
ímpar.
A superstição também está presente. Acreditava-se que o
demônio estava solto pelas ruas da cidade nesta noite, aterrorizando a todos e
principalmente as crianças que iam para a cama mais cedo. Originalmente, desta
cerimônia só era permitido participar os homens. Outras crendices também fazem
parte, relacionadas com a presença de lobisomem e mula-sem-cabeça,
principalmente na zona rural.
Outro detalhe digno
de nota está relacionado ao estandarte que representa o Cristo, pintura que vai
até a altura do abdóme. Originalmente era uma peça inteira. Conta-se que
descosturava-se a parte inferior do tecido e introduzia-se uma tábua entre as
faces ventral e dorsal, mantendo-se numa forma fixa ereta semelhante a um corpo
humano. A ação de traças destruiu a parte inferior. O estandarte original hoje
encontra-se exposto no Museu de Arte Sacra. O utilizado na procissão é uma
réplica pintada pela artista Maria Veiga, descendente de Veiga Valle[1].
Informações do blog: http://www.vilaboadegoias.com.br/fogareu.htm
[1] José
Joaquim da Veiga Valle (Arraial da Meia Ponte, atual Pirenópolis,
9 de
setembro de 1806 – Goiás, 24 de
janeiro de 1874 1
), em geral conhecido simplesmente por Veiga Valle, foi um artista escultor
e dourador em Goiás.
Sua formação artistica é pouco conhecida e supõe-se que seja autodidata.
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