A espetacularidade da "Procissão de Santa Rita de Cássia" a Santa das Causas impossíveis
“Dizem que as
flores são todas, palavras que a terra diz”
Fernando Pessoa
Este ano de 2014 a Procissão de Santa Rita de Cássia em Uberaba, teve um
motivo especial! A primeira capela do triangulo mineiro completou 160 anos no
dia 22 de maio. Muitos devotos da Santa e amigos do Museu se juntaram para
comemorar esta data. A festa centenária foi catalogada pela "12ª Semana Nacional de Museus".
Iniciou-se a construção da capela de Santa Rita, em 1854, pelo agente dos correios, em Uberaba, Cândido Justiniano da Lira Gama, em pagamento a uma promessa de deixar o vício do alcoolismo. A conclusão da obra aconteceu 20 anos depois o comerciante, Manoel Joaquim Barcelos,também pagando promessa ampliou o prédio em 1877.
A capela mantém o estilo arquitetônico colonial da sua construção.
A capela construída por iniciativa
popular - foi incorporada, em 1939, ao Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional e, no ano de 1987, transformada em Museu de Arte Sacra. O acervo, na maioria composto de peças barrocas, foi construído por
doações da população e da cúria metropolitana e conta a história do catolicismo
na região por meio das vestes litúrgicas e paramentos sagrados, estandartes de procissões,
imagens, móveis, relicários, oratórios, instrumentos musicais, sino, e etc
SENHOR DOS PASSOS
– Acervo Museu de arte
sacra. Madeira entalhada e policromada Século XIX Alt
176 cm.)
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- Nos estudos sobre etnocenologia “Vale ressaltar a emergência da noção de “identificação”, como uma construção temporária, existencialista e dinâmica, contraposta à de “identidade”, como uma categoria definitiva, essencialista e estática, que se encontraria em crise na contemporaneidade(...)
- Teatralidade e espetacularidade – o par de categorias ideal-típicas referente à convivência em sociedade; sendo a primeira aplicada às pequenas interações rotineiras, nas quais os indivíduos agem em função do interlocutor (para o olhar do outro, como no sentido etimológico do teatro), de modo mais ou menos consciente e confuso, sem distinção clara entre “atores e “espectadores”, por desempenharem, ai, todos, simultaneamente os dois “papeis”; e a segunda aplicada às maiores interações extraordinárias, quando coletivamente a sociedade cria fenômenos organizados para o olhar de muitos outros, que dele têm consciência clara como “atores” ou “espectadores (...) Um trajeto, muitos projetos. Armindo Bião.
Esta procissão é um evento que faz parte da identidade social e cultural da cidade de Uberaba desde sua fundação, cumprindo dupla finalidade: o elo entre a comunidade, por meio da herança cultural e, ao mesmo tempo, o acontecimento no qual ela reforçava seus laços com o povo e reproduz uma identidade. Este evento extra-cotidiano polariza múltiplas funções: religiosidade, lazer, discussão política, apreciação estética, herança cultural, identificação, ocupação das ruas do entorno da capela, gerando um estado poético entre os que participam e os que assistem.
Sem mais, com vocês,
as palavras de Guimarães Rosa:
“Hem? Hem? O que mais
penso, testo e explico: todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas
todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para desendoidecer,
desdoidar. Reza é que sara da loucura. No geral. Isso é que é a
salvação-da-alma… Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de
religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio… Uma só, para mim é pouca,
talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, embrenho a certo; e aceito as
preces de compadre meu Quelemém, doutrina dele, de Cardéque. Mas, quando posso,
vou no Mindubim, onde um Matias é crente, metodista: a gente se acusa de
pecador, lê alto a Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me quieta,
me suspende. Qualquer sombrinha me refresca. Mas é só muito provisório. Eu
queria rezar – o tempo todo. Muita gente não me aprova, acham que lei de Deus é
privilégios, invariável.
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