Dudude cria um espetáculo lírico, performático, um desabafo e
o manifesto de mais um artista criador de nosso tempo frente aos mecanismos que
viabilizam a cultura e a arte no Brasil, ao trazer para a cena teatral uma
discussão a respeito das leis de incentivo e suas contradições envolvendo o
artista nos planos da criação e da burocracia.Dudude Hermann, de forma
objetiva, interrompe o espetáculo e conversa com a plateia.
fonte: www.facebook.com/Dudude.Herrmann/media |
O que acontece em cena
é a realidade artística da performer, que utiliza para o desenvolvimento de sua
cena a realidade no campo dos projetos, abrindo a problemática da burocracia
das leis de incentivo à cultura.
fonte:www.dudude.com.br/ |
Ela inicia o espetáculo debruçada em uma mesa com pilhas e
pilhas de editais, cópias de projetos e em um determinado instante, numa
explosão de energia, ela joga tudo para cima e diz: “Eu vou viver o aqui
e agora e vou mostrar para vocês o meu trabalho”. Com isso, inicia uma aula de
dança e improvisação, penetrando no espaço e no imaginário da plateia com
questões colocadas numa urgência aflitiva e poética, criando assim um espaço de
reflexão e crítica da forma e dos meios de “estímulos” que existem para os
trabalhadores e pesquisadores de todos os campos do conhecimento: Artistas independentes vivem essa ambiguidade nas relações de trabalho.
fonte:www.dudude.com.br/ |
A performance é
um trânsito entre dança, teatro, palestra e improvisação, abre um campo experimental e aproxima linguagens,
afirmando a hibridez no acontecimento artístico.
(...) quando um determinado limiar crítico é ultrapassado a cultura é "reordenada"
Hibridismo cultural, Peter Burke (pg 114)
fonte:www.dudude.com.br/ |
“A projetista é um passeio pela história e pela condição da
arte em nosso país, de maneira poética, lúdica, nostálgica e realista. Dudude
consegue com sua excelência de qualidade de movimento falar com o corpo de
forma clara, inteligente e competente. É uma obra de arte necessária e
emocionante” (Suely Machado. Coreografa, diretora e fundadora do grupo 1º ato.)
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O espetáculo teatral se desenvolve com: o corpo, o movimento,
o indivíduo, a questão dos projetos, a palavra, o espaço cênico, a platéia, a
mesa, o público, a sonoplastia, a luz, a sombra, a vida, o mundo, a sociedade.
(...) quando um determinado limiar crítico é ultrapassado" a cultura é "reordenada"
Hibridismo cultural por Peter Burke (pg 114)
fonte:www.dudude.com.br/ |
“O que importa é que
foi um fenômeno de clarificação, como se uma sociedade de repente visse o que ela
continha de intolerável e também viu a possibilidade de algo mais. É um
fenômeno coletivo como: ‘um pouco de possível, senão eu sufoco. O possível não
existe antes, é criado pelo acontecimento, cria uma nova existência, produz uma
nova subjetividade, nova relação com o corpo, o tempo da sexualidade, o meio, a
cultura, o trabalho.” (Deleuze e Guattari - mai 68 n’a pas eu lieu. les
neovelles, Paris, 3 maio de 1984).
A presença da atriz e sua corporeidade, como
construtoras de ambiência, criam juntos um todo potente e simbólico. A performance é um desabafo público sensível, satiriza as dinâmicas dos editais,
da burocracia, das políticas públicas de fomento à cultura que obriga os
artistas a entrarem no campo dos “projetos”. Tais questões, como: “Como fica
nosso tempo presente? Como fica nosso projeto de vida diante dessa formatação
em excesso neste jogo de produções artísticas descartáveis?”, são colocadas em
jogo e nos levam a refletir se é possível simplificar as leis para deixar o
artista livre para aprofundar sua estética, linguagem e investigação artística,
discutindo o modo de vida na atualidade.
fonte:www.dudude.com.br/ |
O hibridismo aqui apontado não é cultural, é intrínseco às lingiagens artísticas.
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