terça-feira, 12 de agosto de 2014

A Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis - GO

A Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis - GO

Thaísea Mazza

“Esta festa não se acaba
esta festa não tem fim.
Esta festa não se acaba,
esta festa não tem fim.
Se esta festa se acabar,
se esta festa se acabar
ai meu Deus,
ai meu Deus,
ai meu Deus
que será de mim!”
(Farofada. Música da festa do Divino de Pirenópolis.)

A Festa do Divino Espirito Santo de Pirenópolis (Goiás) é considerada a festa do divino mais Importante do brasil, e a maior festa cultural da região centro-oeste, e devido a este fato, é registrada como Patrimônio cultural imaterial brasileiro, pelo IPHAN em 2010. Com mais de 190 anos de tradição, essa festa, realizada no período de Pentecostes, gera movimentação em toda a cidade de Pirenópolis, em toda a região, tornando-se atração turística da cidade. Dotada de muitas manifestações artísticas, sociais, muita religiosidade e coletividade, cujo ponto central é celebrar as consagrações do Divino Espírito Santo, o período dos 50 dias após a Páscoa tornaram-se, desde a fundação da cidade, uma época de muita movimentação em toda a cidade (na Igreja e em seus arredores, nas ruas, casas, bairros, no teatro, em arenas), que envolve toda a comunidade local.



Fontes relatam que essa tradição chegou ao Brasil pelos portugueses, e o primeiro relato dessa festa em Pirenópolis foi no ano de 1819, sendo promovida pelo Coronel Joaquim da Costa Teixeira, nomeado primeiro “Imperador” da festa do Divino. A Figura do Imperador é uma das mais importantes da Festa, pois cabe a ele a organização da festa, ajudando a mobilizar toda a comunidade para que os preparativos da festa prossigam nos conformes. Desde o Imperador Joaquim da Costa, tantos já passaram (pois cada ano, um novo Imperador é apresentado – a escolha, atualmente, se dá por sorteio – qualquer pessoa disposta e disponível pode se candidatar a Imperador) que em 2015 será apresentado o 197º Imperador - João Geraldo da Costa Pina, de acordo com a página oficial da Festa do Divino de Pirenópolis, no Facebook.







Muitas solenidades acontecem nos dias da festa, que se misturam em ritos religiosos e profanos. Acontecem celebração de missas na Igreja do Rosario, novenas nas casas, tocatas de banda de couro, repique de sinos, cortejos, e também acontecem as Cavalhadas, as cavalgadas dos mascarados, a apresentação do auto de natal das Pastorinhas, entre inúmeras celebrações que enriquecem os 23 dias de festa do Divino Espírito Santo.
Dentro da realidade dessa festa, encontra-se a tradição forte, quando analisamos depoimentos dos envolvidos na festa, contando que sua posição na festa foi passada de pai pra filho, de geração pra geração. Neste vídeo-documentário, “A arte da fé”, muitos registros assim foram feitos.



Mascarados



Dentre as manifestações que ocorrem na diversidade dessa festa, destaco aqui uma que me chamou muita atenção, que são os Mascarados.

“Para alguns, os mascarados já foram mais numerosos e mais presentes, e nem sempre atrelados às Cavalhadas; para outros, são o termômetro da animação de cada festa. Para muitos, são personagens cuja importância cresce ano a ano, já que atualmente se transformaram em um dos ícones da Festa do Divino e da própria cidade; ou seja, se transformaram em um dos símbolos do próprio pirenopolino.” (Dossiê IPHAN 2010)



Os Mascarados são grupos de pessoas que saem às ruas num determinado momento da festa, e permanecem três dias dentre as festividades, sempre numa filosofia de “liberdade” por não haver forma de identifica-los. Dessa forma, os mascarados podem festar, brincar, dançar, flertar, traquinar, “sem medo de ser feliz”.
Existem muitas duvidas sobre o surgimento dos Mascarados nas festas. Algumas pessoas dizem que surgiram pela vontade dos escravos de participarem da festa, e então usavam mascaras para fazer parte da festa. Outros relatam que pessoas importantes na cidade queriam liberdade para festar, e dessa forma usavam máscaras. Mas as histórias sempre giram em torno de esconder sua identidade a fim de poder brincar sem problemas. Além disso, pregam que os mascarados vêm as festas para espantar os maus espíritos, proporcionando a alegria junto às festividades.



A primeira aparição dos Mascarados na Festa é na véspera do Domingo de Pentecostes – Sabado do Divino – quando todos se juntam ao meio dia em frente a Igreja, e saem a cavalo a cidade, fazendo suas peripécias. Existem grupos de Mascarados, e predominantemente são homens que participam, mas, no fim da década de 1970, mulheres começaram a aparecer também, como a “Turma da Telma”, um grupo de amigas que saem a pé nas ruas, adornadas de máscaras e enfeites.
A maior aparição é no Domingo do Divino, primeiro dia das Cavalhadas. Os mascarados invadem onde acontece a representação das lutas dos mouros e cristãos, e enchem o lugar com suas produções ricas, coloridas e divertidas. O hino tradicional dos mascarados é o “Rio de Piracicaba”, e um dos costumes deles, é a resistência ao sair da arena, proporcionando mais comicidade ainda.







Vídeo: Mascarados no Hino do Divino Cavalhadas de 2011 - https://www.youtube.com/watch?v=0YMDjRdS4EE


Particularmente falando, entre o costume dos Mascarados, servindo como um exemplo do que a festa tem de mais belo e rico, é a mobilização de todo um grupo de pessoas, sejam amigos, vizinhos, mas geralmente são familiares, para aprontar e produzir o mascarados que sairá às ruas. Muitas pessoas desejam desde crianças, sair de mascarado às ruas. Outras, saem porque seus pais e antepassados saíam, mas de qualquer forma, cultivam esse costume como um grande tesouro.
No documentário “A Arte da Fé”, podemos perceber, de um lado, o ritual de quem faz as máscaras (atualmente já se usam máscaras de monstro comprada facilmente, mas ainda é forte a presença da máscara artesanal, feita por pessoas como o senhor Lúcio Abrantes), e de outro, o engajamento dos familiares de Henrique de Pina, que sai de mascarado há mais de dez anos.



“Trata-se de um período onde todos – e cada um - podem atuar em uma dimensão de transgressão consentida, que “se justifica no que a máscara permite e propicia: a desforra, a paquera e a sedução, a alegria solta, o descompromisso e a liberdade totais – na diluição do eu em milhares de identidades, em ser o outro, em ser ninguém” (ALVES, 2004:153).” (Dossiê IPHAN 2010)

Torna-se uma festa rica para quem vê de fora, e comovente para quem participa da produção, por ser algo que está intimamente relacionado à vida dessas pessoas, uma cultura que atravessa gerações, e permanece enraizada no coletivo social, mostrando suas raízes até os dias de hoje, em cada movimento da Festa do Divino. Muitas culturas ali se resinificam, pois a Festa do Divino é dotada de muitas manifestações culturais que aparecem em muitos outros lugares, como a Folia de Reis, A Catira, a canção dos violeiros, As Pastorinhas, o Reinado (Festa dos Pretos), entre outras. Mas essas manifestações tomam uma marca quando vistas dentro da Festa do Divino Espírito Santo da cidade de Pirenópolis. Cada pessoa que se torna integrante, faz a identidade própria da festa, e conforme passam as gerações, passa-se também, de forma não enrijecida a cultura, respondendo às falas dos jovens que entram no processo da festa.






Referências, fontes consultadas, vídeos observados:
Vídeo Mascarados no Hino do Divino Cavalhadas de 2011 - https://www.youtube.com/watch?v=0YMDjRdS4EE
Vídeo – as cavalhadas do espírito santo - https://www.youtube.com/watch?v=R0tg_Lt8C0E
Ornellas tour – viagem a pirenopolis - https://www.youtube.com/watch?v=N-z9mOZAqKM
Vídeo tradição em pirenopolis - https://www.youtube.com/watch?v=bv_hYKBXufk
Site de pirenopolis – explicação festa do divino - http://www.pirenopolis.tur.br/cultura/folclore/festa-do-divino
Dossiê iphan – festa do divino de pirenopolis - http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1871
Pagina do facebook festa do divino - https://www.facebook.com/FestaDoDivinoDePirenopolis/info

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LABIRINTO

elenco de O labirinto, apresentaçao no encerramento do ano de 1917 no curso de teatro da UFU