A Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis - GO
Thaísea Mazza
“Esta festa não se acaba
esta festa não tem fim.
Esta festa não se acaba,
esta festa não tem fim.
Se esta festa se acabar,
se esta festa se acabar
ai meu Deus,
ai meu Deus,
ai meu Deus
que será de mim!”
(Farofada. Música da festa do Divino de Pirenópolis.)
A
Festa do Divino Espirito Santo de Pirenópolis (Goiás) é considerada a festa do
divino mais Importante do brasil, e a maior festa cultural da região
centro-oeste, e devido a este fato, é registrada como Patrimônio cultural
imaterial brasileiro, pelo IPHAN em 2010. Com mais de 190 anos de tradição,
essa festa, realizada no período de Pentecostes, gera movimentação em toda a
cidade de Pirenópolis, em toda a região, tornando-se atração turística da
cidade. Dotada de muitas manifestações artísticas, sociais, muita religiosidade
e coletividade, cujo ponto central é celebrar as consagrações do Divino
Espírito Santo, o período dos 50 dias após a Páscoa tornaram-se, desde a
fundação da cidade, uma época de muita movimentação em toda a cidade (na Igreja
e em seus arredores, nas ruas, casas, bairros, no teatro, em arenas), que
envolve toda a comunidade local.
Fontes relatam que essa tradição chegou ao Brasil pelos
portugueses, e o primeiro relato dessa festa em Pirenópolis foi no ano de 1819,
sendo promovida pelo Coronel Joaquim da Costa Teixeira, nomeado primeiro
“Imperador” da festa do Divino. A Figura do Imperador é uma das mais
importantes da Festa, pois cabe a ele a organização da festa, ajudando a
mobilizar toda a comunidade para que os preparativos da festa prossigam nos
conformes. Desde o Imperador Joaquim da Costa, tantos já passaram (pois cada
ano, um novo Imperador é apresentado – a escolha, atualmente, se dá por sorteio
– qualquer pessoa disposta e disponível pode se candidatar a Imperador) que em
2015 será apresentado o 197º Imperador - João Geraldo da Costa Pina, de acordo com a página oficial da Festa do
Divino de Pirenópolis, no Facebook.
Muitas
solenidades acontecem nos dias da festa, que se misturam em ritos religiosos e
profanos. Acontecem celebração de missas na Igreja do Rosario, novenas nas
casas, tocatas de banda de couro, repique de sinos, cortejos, e também
acontecem as Cavalhadas, as cavalgadas dos mascarados, a apresentação do auto
de natal das Pastorinhas, entre inúmeras celebrações que enriquecem os 23 dias
de festa do Divino Espírito Santo.
Dentro da realidade dessa festa, encontra-se a tradição forte, quando
analisamos depoimentos dos envolvidos na festa, contando que sua posição na
festa foi passada de pai pra filho, de geração pra geração. Neste
vídeo-documentário, “A arte da fé”, muitos registros assim foram feitos.
VÍDEO: "A Arte da Fé" - https://www.youtube.com/watch?v=CoXubFFVFZo
Mascarados
Dentre as manifestações que ocorrem na diversidade dessa festa, destaco
aqui uma que me chamou muita atenção, que são os Mascarados.
“Para alguns, os
mascarados já foram mais numerosos e mais presentes, e nem sempre atrelados às
Cavalhadas; para outros, são o termômetro da animação de cada festa. Para
muitos, são personagens cuja importância cresce ano a ano, já que atualmente se
transformaram em um dos ícones da Festa do Divino e da própria cidade; ou seja,
se transformaram em um dos símbolos do próprio pirenopolino.” (Dossiê IPHAN
2010)
Os Mascarados são grupos de pessoas que saem às ruas num determinado
momento da festa, e permanecem três dias dentre as festividades, sempre numa
filosofia de “liberdade” por não haver forma de identifica-los. Dessa forma, os
mascarados podem festar, brincar, dançar, flertar, traquinar, “sem medo de ser
feliz”.
Existem muitas duvidas sobre o surgimento dos Mascarados nas festas.
Algumas pessoas dizem que surgiram pela vontade dos escravos de participarem da
festa, e então usavam mascaras para fazer parte da festa. Outros relatam que
pessoas importantes na cidade queriam liberdade para festar, e dessa forma
usavam máscaras. Mas as histórias sempre giram em torno de esconder sua
identidade a fim de poder brincar sem problemas. Além disso, pregam que os
mascarados vêm as festas para espantar os maus espíritos, proporcionando a
alegria junto às festividades.
A primeira aparição dos Mascarados na Festa é na véspera do Domingo de
Pentecostes – Sabado do Divino – quando todos se juntam ao meio dia em frente a
Igreja, e saem a cavalo a cidade, fazendo suas peripécias. Existem grupos de
Mascarados, e predominantemente são homens que participam, mas, no fim da
década de 1970, mulheres começaram a aparecer também, como a “Turma da Telma”,
um grupo de amigas que saem a pé nas ruas, adornadas de máscaras e enfeites.
A maior aparição é no
Domingo do Divino, primeiro dia das Cavalhadas. Os mascarados invadem onde
acontece a representação das lutas dos mouros e cristãos, e enchem o lugar com
suas produções ricas, coloridas e divertidas. O hino tradicional dos mascarados
é o “Rio de Piracicaba”, e um dos costumes deles, é a resistência ao sair da
arena, proporcionando mais comicidade ainda.
Vídeo: Mascarados no Hino do Divino Cavalhadas de 2011 - https://www.youtube.com/watch?v=0YMDjRdS4EE
Particularmente falando, entre o costume dos Mascarados, servindo como
um exemplo do que a festa tem de mais belo e rico, é a mobilização de todo um
grupo de pessoas, sejam amigos, vizinhos, mas geralmente são familiares, para
aprontar e produzir o mascarados que sairá às ruas. Muitas pessoas desejam
desde crianças, sair de mascarado às ruas. Outras, saem porque seus pais e
antepassados saíam, mas de qualquer forma, cultivam esse costume como um grande
tesouro.
No documentário “A Arte da Fé”, podemos perceber, de um lado, o ritual
de quem faz as máscaras (atualmente já se usam máscaras de monstro comprada
facilmente, mas ainda é forte a presença da máscara artesanal, feita por
pessoas como o senhor Lúcio Abrantes), e de outro, o engajamento dos familiares
de Henrique de Pina, que sai de mascarado há mais de dez anos.
“Trata-se de um período onde todos – e cada um - podem atuar em uma
dimensão de transgressão consentida, que “se justifica no que a máscara permite
e propicia: a desforra, a paquera e a sedução, a alegria solta, o
descompromisso e a liberdade totais – na diluição do eu em milhares de
identidades, em ser o outro, em ser ninguém” (ALVES, 2004:153).” (Dossiê IPHAN
2010)
Torna-se uma festa rica para quem vê de fora, e comovente para quem
participa da produção, por ser algo que está intimamente relacionado à vida
dessas pessoas, uma cultura que atravessa gerações, e permanece enraizada no
coletivo social, mostrando suas raízes até os dias de hoje, em cada movimento
da Festa do Divino. Muitas culturas ali se resinificam, pois a Festa do Divino
é dotada de muitas manifestações culturais que aparecem em muitos outros lugares,
como a Folia de Reis, A Catira, a canção dos violeiros, As Pastorinhas, o
Reinado (Festa dos Pretos), entre outras. Mas essas manifestações tomam uma
marca quando vistas dentro da Festa do Divino Espírito Santo da cidade de
Pirenópolis. Cada pessoa que se torna integrante, faz a identidade própria da
festa, e conforme passam as gerações, passa-se também, de forma não enrijecida
a cultura, respondendo às falas dos jovens que entram no processo da festa.
Referências, fontes consultadas, vídeos observados:
Vídeo Mascarados no Hino do Divino Cavalhadas de 2011 - https://www.youtube.com/watch?v=0YMDjRdS4EE
Vídeo Arte da fé - https://www.youtube.com/watch?v=CoXubFFVFZo
Vídeo – as cavalhadas do espírito santo - https://www.youtube.com/watch?v=R0tg_Lt8C0E
Ornellas tour – viagem a pirenopolis - https://www.youtube.com/watch?v=N-z9mOZAqKM
Vídeo tradição em pirenopolis - https://www.youtube.com/watch?v=bv_hYKBXufk
Site de pirenopolis – explicação festa do divino - http://www.pirenopolis.tur.br/cultura/folclore/festa-do-divino
Release festa do divino - http://www.pirenopolis.go.gov.br/1498/noticias/release-festa/
Dossiê iphan – festa do divino de pirenopolis - http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1871
Pagina do facebook festa do divino - https://www.facebook.com/FestaDoDivinoDePirenopolis/info
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