Por Robert Oliveira
Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, é uma peça clássica do teatro
brasileiro, escrita em 1955 e publicada em 1957.
É
uma comédia de tipo sacramental que põe em relevo problemas e situações
peculiares da cultura do Nordeste do Brasil. Insere elementos da tradição da
literatura de cordel, apresenta traços do barroco católico brasileiro, mistura
cultura popular e tradição religiosa.
Abordando temas universais como a avareza humana e suas
amargas consequências, por meio de personagens populares, Suassuna, nesta obra,
prepara o espectador para um desfecho moralizante conforme os preceitos do
cristianismo católico.
A visão
cristã da vida presente no Auto traz uma concepção da religião como algo
simples, agradável, doce e não como uma coisa formal e solene, difícil e mesmo
penosa. Essa intimidade com Deus, e a ideia de simplicidade nas relações dele
com os homens, essa compreensão da vida e fé na misericórdia, parecem aspectos
primordiais no sentido religioso da obra: a compreensão das faltas humanas,
atribuída à Nossa Senhora, que, como mulher, simples e do povo, explica-as e
pede para elas a compaixão divina.
O título da
obra remete à noção de que o homem é um ser passível de erro, mas é possível
que seja perdoado, por intermédio da “Compadecida”, Nossa Senhora, que, na
Igreja Católica, é considerada pelos fiéis a advogada capaz de interceder pelos
pecadores junto a Jesus Cristo.
O autor permite-se o exercício de um diálogo
simultaneamente complementar e antagônico entre morte e vida. Por meio dele
abre-se uma brecha, que introduz a dimensão da imortalidade desvelada.
Em Auto da Compadecida, Ariano
Suassuna consegue realizar uma magnífica síntese de duas tradições: a dos autos
da era medieval e a da literatura picaresca espanhola. Na era medieval, a
cultura era indissociável da religião, mesmo porque a Igreja controlava tudo
com mão de ferro. A Igreja cultivava os autos dramáticos de devoção aos santos
para doutrinar e tolerava os autos cômicos para divertir o povo. A tradição da
literatura picaresca espanhola vem da cultura popular e chega ao ápice no Dom Quixote, de Cervantes.
Segundo o autor, a peça nasceu da fusão de três
folhetos de cordel: O enterro do cachorro, O cavalo que defecava dinheiro e O castigo da soberba.
A obra
apresenta os seguintes elementos que permitem a identificação de sua
participação num determinado estilo de época da evolução cultural brasileira:]
1-
O texto
propõe-se como um auto. Dentro da tradição da cultura de língua portuguesa, o
auto é uma modalidade do teatro medieval, cujo assunto é basicamente religioso.
Essa proposta conduz a que a primeira intenção do texto está em moldá-lo dentro
de um enquadramento do teatro medieval português.
2- O texto propõe-se como resultado de uma pesquisa sobre
a tradição oral dor a romanceiros e narrativas nordestinas, fixados ou não em
termos de literatura de cordel. Propõe, portanto, um enfoque regionalista ou,
pelo menos, organiza um acervo regional com vistas a uma comunicação estética
mais trabalhada.
3- A síntese de um modelo medieval com um modelo regional
resulta, na peça, como concebida pelo Autor. Se verificar que as tendências
mais importantes do Modernismo definem-se no esforço por uma síntese nacional
dos processos estáticos, pode-se concluir que o texto do Auto da Compadecida se insere nas preocupações gerais
desse estilo de época.
Em
1999 a peça ganhou uma versão para TV com o nome “O auto da compadecida”, acrescentando
a letra “o” no nome original.
Sinopse:
No
vilarejo de Taperoá, sertão da Paraíba, João Grilo (Matheus Nachtergaele) e
Chicó (Selton Mello), dois nordestinos sem eira nem beira, andam pelas ruas
anunciando A Paixão de Cristo, "o filme mais arretado do mundo". A
sessão é um sucesso, eles conseguem alguns trocados, mas a luta pela
sobrevivência continua. João Grilo e Chicó preparam inúmeros planos para
conseguir um pouco de dinheiro. Novos desafios vão surgindo, provocando mais
confusões armadas pela esperteza de João Grilo, sempre em parceria com Chicó,
mas a chegada da bela Rosinha (Virgínia Cavendish), filha de Antonio Moraes
(Paulo Goulart), desperta a paixão de Chicó, e ciúmes do cabo Setenta (Aramis
Trindade). Os planos da dupla, que envolvem o casamento entre Chicó e Rosinha e
a posse de uma porca de barro recheada de dinheiro, são interrompidos pela
chegada do cangaceiro Severino (marco Nanini) e a morte de João Grilo. Todos os
mortos reencontram-se no Juízo Final, onde serão julgados no Tribunal das Almas
por um Jesus negro (Maurício Gonçalves) e pelo diabo (Luís Melo). O destino de
cada um deles será decidido pela aparição de Nossa Senhora, a Compadecida
(Fernanda Montenegro) e traz um final surpreendente, principalmente para João
Grilo.
Esta
peça projetou Suassuna em todo o país e foi considerada, em 1962, por Sábato
Magaldi "o texto mais popular do moderno teatro brasileiro".
Referencias: guiadoestudante.abril.com.br
oficinadeteatro.com
www.passeiweb.com
globofilmes.globo.com
www.sempretops.com
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